sábado, 13 de dezembro de 2025

O Cruzeiro da Rechã de Sanoane de Cima e o Menino José

Na Rechã de Sanoane de Cima, onde a terra é lisa e o céu parece mais perto, erguia-se um cruzeiro antigo, feito de pedra clara e marcado pelo tempo. Diziam os mais velhos que aquele cruzeiro guardava histórias, segredos e pedidos sussurrados ao vento. O menino José passava por ali todos os dias. Era curioso, atento e gostava de se sentar à sombra do cruzeiro para ouvir os sons da aldeia: o canto distante dos galos, o murmúrio das ribeiras e o ranger suave dos carros de bois ao longe. Certo dia, José reparou que o cruzeiro parecia diferente. A pedra estava morna, como se tivesse apanhado sol por dentro. Aproximou-se e colocou a mão com cuidado. Nesse instante, uma brisa leve rodopiou à sua volta, trazendo um cheiro antigo de giestas e pão acabado de cozer. — José… — sussurrou uma voz doce, que parecia vir da própria pedra. Assustado, mas corajoso, o menino ficou quieto. — Sou o guardião da Rechã, continuou a voz. Vejo gerações passarem, brincarem, crescerem. Preciso de alguém que cuide das memórias da aldeia. José sentiu o coração bater mais depressa. Prometeu que protegeria aquele lugar, que respeitaria a terra, as pessoas e as histórias que ali viviam. Desde esse dia, o menino José passou a limpar as ervas em volta do cruzeiro, a sentar-se ali para contar histórias aos mais novos e a ouvir os mais velhos, guardando cada palavra como um tesouro. E o cruzeiro, silencioso mas atento, parecia sorrir em pedra sempre que José passava. Dizem que, até hoje, quem se senta na Rechã de Sanoane de Cima sente uma paz especial — a paz de um lugar onde um menino aprendeu que cuidar da memória é também cuidar do futuro.

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