domingo, 14 de dezembro de 2025
A Eira da Casa de Sanoane de Cima e o Menino Miguel
Na Casa de Sanoane de Cima havia uma eira larga, feita de pedra antiga, lisa de tantos pés e de tantos anos. Era ali que o tempo trabalhava devagar, ao ritmo das estações. A eira conhecia o som das malhadas de milho e de centeio, o bater certo dos malhos, o pó dourado a subir no ar como fumo de sol.
Os meninos gostavam de ver os adultos trabalhar. Sentavam-se num canto da eira, atento, enquanto as espigas se abriam e os grãos saltavam, felizes por se libertarem. O milho fazia barulho de festa; o centeio, mais sério, caía em silêncio respeitoso.
Depois vinham os feijões. Espalhados na eira, secavam ao sol, mudando de cor, estalando de mansinho, como se conversassem entre si. Miguel ajudava a virá-los com cuidado, orgulhoso por participar naquele trabalho antigo.
Mas o tempo passou, como passa sempre. A eira continuou ali, firme, enquanto o mundo mudava.
Hoje, a eira da Casa de Sanoane de Cima é também o lugar das brincadeiras do Miguel. Onde antes ecoava o som dos malhos, ouve-se agora o riso leve da infância. Miguel chega com os seus brinquedos de água, enchendo baldes, pistolas coloridas e garrafas furadas que fazem chuva fina no ar quente do verão.
No meio da eira, um guarda-sol aberto cria uma ilha de sombra. É ali que Miguel faz pausas, bebe água fresca e imagina que a eira é um grande mar de pedra, onde ele é capitão, agricultor e aventureiro ao mesmo tempo.
A eira, paciente e sábia, aceita tudo: o trabalho de ontem e a brincadeira de hoje. Sabe que ambos são importantes. Ensina, sem falar, que o passado alimenta o presente e que a alegria das crianças é também uma forma de colheita.
E quando o sol se põe atrás dos montes, a eira da Casa de Sanoane de Cima guarda mais um dia — com cheiro a milho antigo, feijão seco e gargalhadas de água do menino Miguel.
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